AI...

Vivo numa época onde não preciso mais corrigir texto ortográfico. Ela corrige e edita. Penso num texto sobre determinado tema e ela me detalha. Projeto de arquitetura, ela executa. AI é o máximo.

Levei anos estudando o mundo das ideias de Platão, os mitos, os arquétipos, a biblioteca universal dos Essênios e o hoje, o que eu faço com todo esse conhecimento?

Não vou escrever, falar ou dar aulas sobre minha área. Os projetos que tenho em andamento vou engavetar. Livros, oráculo, redes sociais, tudo está no controle da AI.

Aproveitando a oportunidade, convoco a AI, pois estou precisando de um relacionamento. Sadio, equilibrado, harmônico, que combine com meus gostos.

Vou enviar meus dados e aguardar...

Antes do primeiro encontro, vou perguntar para AI, como tenho que fazer para conquistar, seduzir e manter... Ela sabe tudo...

Quero saber como se faz para namorar. O que posso dizer ou não.

-Será que me ensina a beijar?

-Será que me ensina a sentir e tocar o corpo e a alma da escolha feita...

Já estou bem animado com essa ideia. Tudo bem calculado, projetado, comunicado e disponível para todos nós. Quem não entrar nessa nova onda será um ser humano Homo sapiens sapiens.

-Será que Charles Darwin está metido nisso?

Vou aprender a ser outra pessoa, bem colocada, articulada. Sou aceito, engajado e atualizado... Isso hoje é viver.

O que eu era não sou mais. Pertenço a outra espécie, fora do meu projeto inicial de procurar minha essência, consciência, espiritualidade, verdades. Só preciso da AI para pensar por mim.

Afeto, toque, carinho, olho no olho, romantismo, amor. Isso é coisa do passado, obsoleto no mundo globalizado.

Afff...

Desculpem!

Acordei. Estava dormindo e vou remar.

Miguel Angel.

 

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